domingo, 20 de junho de 2010

No carnaval

Ilustração: Sérgio Antunes



Passar o carnaval por aqui é incondicional e imperativo. Passa todos os anos a dona do cachorrinho que nunca recolhe os vestígios do bicho. Passou ontem a mulher do vizinho, a passos largos com suas malas à procura de novo lar. Havia passado antes uma outra, mais jovem e sensual com destino ao mesmo endereço. Passado, o marido correu, mas não alcançou a antiga esposa. Passaria em outros tempos até a sogra com o seu marido atrás para cobrar satisfações do infiel se não tivessem passado desta para melhor há um ano em passeio à Passo Fundo. Passar-me-iam despercebidos os pobres filhos, que aos prantos com a partida da mãe, passariam a viver com a madrasta, mas todos os dias passavam outras e mais outras. Passarão os filhos a viver com a mãe, segundo a justiça. Passivo, o ex-marido se descobriu. E eu que só estava passando um tempo, peguei a condução que durante a semana passara sempre pontualmente, mas hoje não. A passagem aumentou e eu não tinha dinheiro suficiente - Passe por baixo – sugeriu o generoso cobrador. Uma passeata interrompeu nosso caminho e olhei meio “en passant”, mas pude perceber que passando estão os pobres, ricos, negros, brancos, mulatos, jovens, velhos, homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais, crentes e ateus. E se o samba também passar, que passe com seu compasso, mulatas e passistas.

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