sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Artesanato



Até o digo,
Que não há preto no branco, muito menos o reverso.
Pego uma agulha afiada e esquento-lhe a ponta.
Depois perfuro um pano de fundo negro deixando que a luz penetre por pequenos orifícios talhados na brasa. Mas seus olhos só vêem palavras. O que confunde os olhos ofusca a mente.

Enfarto do digitocárdio



Deu entrada na emergência em estado desesperador
Tremia, contraía, debatia, gritava de dor
Luzes, câmeras e muita ação
Na sala de cirurgia, um bisturi, frieza e muita concentração
Rasgou-lhe o peito e para a sua incredulidade
Havia um vácuo e muita futilidade
O órgão trocado por circuitos de complexo sistema
funcionava  aparentemente sem problema
Mas de que reclamava o paciente?
Não de futuro, nem de passado, só de presente
De que vivia então o pseudofedelho?
Respirava com ajuda de aparelho
Que não se confunda ao hospitalar
Aparelho portátil domiciliar
Com controle remoto e tela de lédi ou elecedê
Prostrado, totalmente à sua mercê
Mas eis que ocorre um súbito apagão
que seca a fonte do seu pobre coração.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Sábio é o jardineiro



A Rosa não era mais a mesma. Suas pétalas murcharam e secaram, nem de longe lembrando a vivacidade rubra que outrora agraciava os olhos de quem frequentava aquele jardim. Tudo aconteceu por culpa do Espinho, que de tantos ciúmes, feria a todos que ousassem se aproximar de sua protegida. Sufocada, a Rosa tomou a mais difícil das decisões. O Espinho em sua agudez, não hesitou em acatar seu desejo, pois com a Rosa não se discute. A Rosa encontrou uma nova morada e era visitada por muitos, que a cheiravam e a acariciavam. Mas um dia a repousaram em um vaso com água. Não era mais a Rosa do jardim. Tornou-se um doze avos de um enfeite provisório de um egocentrismo qualquer. Feneceu e encontrou nas páginas de um livro sua morada eterna.
- Não se separa uma Rosa de seu Espinho.
Já dizia o Jardineiro.