sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Kairos x Chronos



Kairos matou Chronos e a batalha chegou ao fim.

Kairos estava em seu palácio, quando Chronos rastejou por entre as colunas gigantescas de mármore branco do imponente portal. O sorrateiro monstro desviava de vasos, contorcia-se assumindo formas grotescas, deixando um rastro gosmento e mal cheiroso pelo chão frio das salas que levava aos fundos da morada erguida na mais alta das colinas. Ao avistar kairos, que tinha seu fabuloso jardim rendido aos seus pés alados, armou seu mortífero bote de cento e oitenta graus. Sabia que dessa vez não seria tão simples, como de costume, pois sua vítima era seu maior antagonista. Porém Kairos já sabia da presença de Chronos e sua ardil tentativa de emboscada. Kairos era só paciência. Chronos era volúpia e esse foi o seu erro fatal. Ao enfrentar o maior dos heróis deveria saber que seu arroubo pragmático teria um alto custo, pois qualquer instante concedido a Kairos representa a eternidade. Kairos foi sendo coberto pela mandíbula superior de Chronos, enquanto a mandíbula inferior fazia seu movimento complementar. Quando alcançou os trezentos e cinquenta e nove graus seus olhos sorriam e a vitória não só já era dada como certa, como comemorada. Eis que uma flecha certeira penetrou-lhe o céu da boca, acertando com precisão incomparável o tálamo, varando o crânio. O cérebro da besta partiu-se ao meio e as metades em novas metades, totalizando então, quatro quartos. Cada parte a seu tempo foi minguando e desfragmentando até se transformarem em poeira e dissiparem ao vento. Glorioso e impiedoso, Kairos agora estava de pé sobre o acéfalo cadáver inimigo. Tinha em seu rosto o vibrante sorriso do vencedor, em contraste ao espanto aterrorizante eternizado ao vencido. Poderia, enfim, reclamar o amor de Aletheia e a conquista do Reino de Pragmatikotita.