terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Verbociclo





O verbo que habita a sua boca não é meu, não é seu, não tem dono.

Acaricia a língua, repercute nos dentes e ecoa nos ouvidos.

Seduz, convence, responde, pergunta, mas não é seu.

Você disse que sabe, mas não sabe que ao dizer disse a voz de um bufão, de um rei, do senhor, do barão.

Repete, confirma, ilude, confunde, gagueja, não pensa.

Pensa que força é permissão para violentar.

É violentado, defenestrado, destituído, anulado de suas próprias bandeiras.

Traduz, produz, conduz ao caos.

Procura, responde, erra, insiste, rejeita, reprova e repete tudo outra vez e outra e outra.

Conclui, resolve, decide, revela, ignora, suicida.

O verbo migra para outra boca e segue sua sanha de poder ser poder.

Não para, não cessa, não finda. Circula, engana, trai, assassina.

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