quarta-feira, 10 de junho de 2015

No Recital



Palavra na parede

ganha vida de paisagem

Se é lida é oferenda

Já que do prego não se espera muito

a não ser fingir-se de morto

Qualquer palavra vale

Mesmo as descharmosas

Há algumas que são ótimas para serem cantadas

Como a Zabumba e o Bumbo

A Zabumba e o Bumbo dão música pura da boa

Já o pronome só serve para recosto

Ontem dormiram no pronome

De tão cansados que ficaram

de cantar Zabumba e Bumbo

Agora é hora de lua seca

Dia de fazer parede feliz

Parede gosta de carinho

de afago doce de molhar de amor os olhos da menina

Pode ser com estilo, batuque e papo

Ou pode ser com língua, unha e saliva

Quando a parede se cansa recosta no pronome

Não precisa ser pronome belo

Mas que sirva de colo bom pra cafuné

Qual?

Longe de quem fala e de quem ouve

Mas qual?

De passado ou futuro distantes

Qual?

Aquele

Qual aquele?

aquele Aquele.

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