quarta-feira, 18 de maio de 2011

Eugênio e Agenor

O recipiente translúcido repousava sobre a mesa. Sob o olhar atônito de Eugênio, Agenor depositava no recipiente a água fresca que trouxera em uma jarra cheia, quatro vezes maior do que o recipiente. Eugênio se inquietava com aquela desproporção, mas era incapaz de evitar o fluxo. Para cada água que entrava no recipiente outras mil saíam. Excitado, Agenor observava que a água produzia formas variadas incontroláveis sobre a superfície lisa escura. Dava gargalhadas soluçadas a cada nova figura que surgia. Bruxas narigudas, cachorros pulguentos, mãos de sete dedos, galhos esqueléticos e bocarras com presas gigantescas. Foi quando, enfim, percebeu a presença de Eugênio, contorcido e quase imóvel senão pelo lento abrir e fechar de suas brânquias. Uma pergunta reverberava incessantemente apenas aos ouvidos quase virgens de Agenor:

- Eugênio, o que foi que te fiz?

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