Geralmente as cerimônias de abertura e
encerramento de grandes eventos como copa do mundo e olimpíadas são
cheias de representações estereotipadas de cultura, de nacionalismo
exacerbado e até mesmo demonstrações genuínas de amor ao esporte
e seus valores. E no decorrer das competições vemos histórias
de superação tanto nas vitórias quanto em derrotas. O roteiro não
varia tanto, mas ainda tem a capacidade de nos emocionar. Porém, a
imagem mais importante dos jogos não envolveu disputa por nenhuma
medalha. Quando subiu ao palco trazendo consigo o violão, vestido de
azul, mas não qualquer azul, mas o inconfundível Azul, com letra
maiúscula sim por se tratar da Portela, Paulo César Batista de
Faria da Viola fez muito mais do que cantar o hino nacional. Dois dos
símbolos sequestrados por usurpadores, vulgarizados e transformados
em armas de uma guerra covarde contra aqueles representados
justamente pela arte que consagrou a Paulinho da Viola e tantos
outros. Ao cantar o hino daquela forma tão elegante, sutil e
carinhosa, Paulinho nos acariciava como se estivéssemos deitados no
colo de um pai ou avô amoroso que sabe que nossos arroubos e
inquietudes são passageiras. Isso é coisa de quem já passou pelas
tormentas em alto mar, mas nunca se furtou a navegar. Estava ali o
nosso timoneiro. A bandeira subia timidamente, quase envergonhada,
assumindo uma culpa de Geni que claramente não é sua. Por pouco não
chega ao topo, pois as mãos fardadas que a conduziam pareciam também
estar em total descompasso com a falta de vigor, rigidez e marcação
marcial. Era uma música estranha para ouvidos duros, todavia
familiar aos tímpanos educados na síncopa e surdo de terceira. Os
símbolos de uma pátria foram retomados e devolvidos a quem lhes é
por direito, mesmo que por breves minutos, mas que sem a menor
dúvida, estarão eternizados para nós e para os olhos de todos que
pelo mundo afora assistiam a vitória da ginga sobre a ordem, do diálogo
sobre o silêncio forçado, da viola sobre o cacetete. Por uns breves
minutos fomos redimidos. Obrigado Paulinho da Portela, das Marias e
Joãos, do Azul e Branco, do Verde e Amarelo, da Viola, Cavaco,
Pandeiro e Tamborim, do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Das
Umbandas, Candomblés e todas as fés. Obrigado Paulinho do Brasil.
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