O verbo que habita a sua boca não é meu, não é seu, não tem
dono.
Acaricia a língua, repercute nos dentes e ecoa nos ouvidos.
Seduz, convence, responde, pergunta, mas não é seu.
Você disse que sabe, mas não sabe que ao dizer disse a voz
de um bufão, de um rei, do senhor, do barão.
Repete, confirma, ilude, confunde, gagueja, não pensa.
Pensa que força é permissão para violentar.
É violentado, defenestrado, destituído, anulado de suas
próprias bandeiras.
Traduz, produz, conduz ao caos.
Procura, responde, erra, insiste, rejeita, reprova e repete
tudo outra vez e outra e outra.
Conclui, resolve, decide, revela, ignora, suicida.
O verbo migra para outra boca e segue sua sanha de poder ser
poder.
Não para, não cessa, não finda. Circula, engana, trai, assassina.
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