É o mais temido de todos os predadores. Jamais um fóssil seu fora encontrado, mesmo assim não há quem duvide de sua existência, pois todos os dias suas presas, ou o que sobrou delas, servem como prova irrefutável de sua voracidade. Seu ataque acontece de maneira tão sorrateira que a própria vítima somente toma consciência de que fora devorada quando todas as esperanças já a abandonaram. Este é o relato de como transcorre seu ataque, de forma que as coincidências, ainda que manipuladas, são a demonstração empírica dos fatos.
A fera toma posição discreta e ajusta-se à pulsação da presa. Nos primeiros instantes, cede levemente a mandíbula inferior, em aproximadamente dez graus, logo alcançando noventa em um ritmo inalterado. A partir desse momento começa seu balé, no qual contorna a vítima sempre da direita para a esquerda, extendendo sua mandíbula ao máximo, em precisos cento e oitenta graus. Então, a vítima adentra sua boca, totalmente inconsciente do que está ocorrendo. O engolimento ocorre na mesma batida que a emboscada, porém com movimentos reversos. Não se ouve gritos ou lamentos, mas o fato está sacramentado. Permanentemente insaciável, vai à busca de mais alimento. Mas a ironia das ironias, é a descoberta de que a sua posição na cadeia alimentar é ambígua. Suas vítimas transformam-se em seus principais consumidores.