(Segunda Classe - Tarsila do Amaral)
Se você tem o desejo legítimo de
saber quem mexeu no seu queijo saiba que foram os que estavam lá meio da
pastagem tocando a boiada, ordenhando as vacas, perseguindo bezerro desgarrado, cozinhando um punhadinho
de feijão com carne de sol como única refeição do dia, buscando água com lata
na cabeça a léguas de distância, coalhando o leite, arando a terra seca molhada
apenas com lágrimas de dor e esperança, vendendo a produção para as
cooperativas e recebendo um quinto do valor de seu esforço quando muito,
caminhando de pé no chão para alcançar a sala de aula mais próxima, esperando o
dia que um doutor venha fazer o que dele se espera, doutorar e enquanto esperam,
seguem embalando o queijo, carregando as caixas até o caminhão, transportando-o
para a venda, mercado, super, hiper, megamercado, repondo o estoque, fatiando,
pesando, reembalando, etiquetando, registrando, dando o troco, servindo à sua
senhoria, limpando os restos, pegando o ônibus, o trem, às vezes o metrô,
subindo e descendo escadarias, invisíveis aos seus olhos, anos luz de seus
pensamentos, inexistentes em seu
coração, desejando uma vida melhor, desejando não uma mesa transbordante, mas
um pedaço legítimo do queijo ausente em outras épocas que agora recheia o
pãozinho fresco de quem tem tanto direito ao queijo quanto qualquer um,
inclusive você. Afinal de contas, quem disse que o queijo seria sempre só seu?
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