Não é da verdade que devo falar, é do fingimento.
Tirando o que se pensa ser real, o resto é falso.
Finja que respeita os seus pais e irmãos.
Dê-lhes carinho de mentira para obter carinho em troca.
Finja ter laços familiares com pessoas que você, supostamente, é incumbido de amar.
Guarde dinheiro. Sonhe com a Disneylandia. Ao encontrar aquele rato de mentira, em frente ao castelo de ilusão, próximo aos estúdios dos sonhos finja-se caucasiano e abastado. Não seja latino, seja incompreensível. Compre o chapéu de orelhas e finja-se de rato. Mostre aos amigos que você pode ser rato e eles não. Financie o sonho das crianças. Estadunidenses. Democráticos como rambos, soldados universais, provedores da paz e da liberdade.
Finja que és capaz de aprender, na escola, na rua, com os mais velhos. Finja que não copias.
Disfarce a ignorância fingindo saber o que ninguém sabe. Finja que todos são tolos. Assista ao jornal nacional, às novelas e finja que não é com você. É só provocação.
Faça de conta que gosta de pegar metrô lotado e que vive experiências sociológicas edificantes. Faça-se plural. Vista calça xadrez, tênis descolado, camiseta surrada e jaqueta de brechó. Finja que não liga, por que é assim e pronto e que se dane quem não gostou.
Finja que o sucesso é uma questão de tempo. Que trabalha. Finja ter escrúpulos, honra e dignidade.
Finja viver em outra sociedade. Enólogo, chef, bom pai e marido. Finja que joga tênis.
Troque o seu passaporte. Renegue seu nariz chapado, lábios carnudos, bunda arrebitada. Disfarce o samba.
De quatro em quatro anos, sem a menor intimidade e vergonha pendure a bandeira daquele país conveniente na janela do seu quatro por quatro assassino da camada de ozônio e finja que chora de emoção na hora do gol.
Finja que amadureceu e com isso ganharás status de sábio e diploma de inútil. Angarie compaixão com frases espirituosas, sem o menor pudor, que ainda assim serás perdoado.
No momento de abdicar da companhia dos entes queridos dissimulados, finja não ter medo.
De nada vai adiantar fingir que vives.
nossa Tatá...profundo...mto vdd...é o q vivemos fazendo certo?!
ResponderExcluirno mínimo, um post mto triste e sincero, atrás de tanto fingimento...
só vejo o vazio e incomplitude.
É Tarsilo, você consegue ir fundo até demais na sociedade... Todas aquelas coisas que todos vêem e fingem não ver, você solta com a agressividade e a postura de um escritor de verdade; invista no seu futuro como escritor, serei uma das leitoras ;)
ResponderExcluirFui remetido ao Pessoa:
ResponderExcluir"O poeta é um fingidor,
Finge tão completamente,
Que chega a fingir que é dor,
A dor que deveras sente".
Em tempos de valores baseados em imagens, nunca os fingidores foram tão aptos. Todavia, como bem disse: "De nada vai adiantar fingir que vives".
Saudações interioranas.
Como vc diria.... é do caralho! Muito bom, amigo... só me dá orgulho esse menino!
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