quarta-feira, 14 de julho de 2010
Psicoliteratura
Adaílson sempre foi o melhor aluno de todas as escolas por onde passou. Era naturalmente bom em todas as matérias e nunca precisou dedicar muitas de suas horas aos estudos, como faziam os seus colegas de classe. Tinha predileção por português, pois aprendera a ler e escrever sozinho aos dois anos de idade. Aos seis já havia publicado seu primeiro livreto de contos e aos dez já ensaiava suas primeiras poesias. Gostava de Drummond e de Manuel Bandeira, mas seu preferido era o José de Alencar. Nos seus aniversários, os brinquedos que ganhava não recebiam a menor atenção. Porém quando um melhor observador o presenteava com um livro, a euforia era de causar espanto. Tornou-se seletivo com a leitura e já fazia vista grossa para misticismos e esoterismos baratos. Na sua adolescência não tinha muitos amigos, o que era uma preocupação constante de seus pais, que certamente se orgulhavam muito de ter um filho tão dedicado à literatura, mas também temiam que a falta de uma sociabilidade maior pudesse trazer-lhe problemas no futuro. Por diversas vezes tentaram convencer-lhe a sair e fazer amigos, até mesmo traziam os “amigos” à sua casa, mas como não recebiam quase que nenhuma atenção logo iam embora, o que deixava seu pai um tanto nervoso:
- Você não pode pensar que a vida está apenas nesses livros. Se não fizer amigos, não socializar, jamais terá uma família e acabará sozinho!
Adaílson respondia com certo grau de superioridade:
- Não me interessam as efemeridades, apenas a imortalidade.
Adaílson foi se tornando cada vez mais recluso e praticamente suas únicas companhias eram seus livros e sua velha máquina de escrever. Já fazia todas as refeições em seu quarto e de lá poucas vezes saiu, duas delas para ir aos enterros do pai e da mãe. A idéia de imortalidade foi se transformando em uma obsessão. Falava em se candidatar a membro imortal da Academia Brasileira de Letras, mas após algumas nomeações duvidosas, desenganou-se e passou a se dedicar ao que chamava de imortalidade no sentido real da palavra. Queria que seu corpo fosse se transformando aos poucos em prosas, versos, poemas e contos. Queria transcender a matéria e para isso seu corpo era um estorvo. Estava absorto e catatônico para o mundo enquanto que para as letras cada vez mais vivo. Quanto mais escrevia, mais próximo à imortalidade acreditava chegar. Aos trinta e tres anos de idade, já fraco e debilitado, começou a escrever seu último poema em vida:
Joga a rede o pescador
vai buscar buscador
Traz a vida que sacia
pro susteio da famia
Lamenta a falta da fartura
enxuga logo as amargura
E antes que pudesse chegar ao fim do poema, seus fracos pulmões, tomados pelos fungos causados pela terrível umidade do seu quarto, sucumbem e o sufocam.
O jovem Josias, apanhado por uma súbita volúpia literária, debruça-se sobre a carteira em sua sala de aula, durante uma maçante aula sobre a história do descobrimento do Brasil, e segurando a cabeça com uma das mãos abre seu caderno na última folha e começa a rabiscar as linhas curtas do seguinte poema:
Joga a rede o pescador
vai buscar buscador
Traz a vida que sacia
pro susteio da famia
Puxa firme para a areia
hoje tem barriga cheia
Sofre o peixe em sua dor
pescador pesca a dor.
Os olhos de Josias Damaceno se reabriram ao pequeno mundo à sua volta. Com a mão esquerda ainda quase adormecida, fechou seu caderno. A esta altura já falavam das capitanias hereditárias.
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Fala Tupanzinho. Muito maneiro seu blog, mas ainda está faltando um conto sobre futebol. Olha só esses dias conversava com um amigo e percebemos que se pode conhecer a índole de um homem dentro nas peladinhas de futebol. O cara que simula faltas, pode ter certeza que não é confiável, o cara que bate muito, esse é capaz até de cometer crimes, agora o cara que ajuda o adversário a se levantar, pega a bola "isolada" no mato, se desculpa quando dá uma entrada mais forte, esse meu amigo, pode confiar como sócio ou até mesmo como genro.
ResponderExcluirE no fim, na imortalidade, ele socializou.
ResponderExcluirBela poesia, professor.
Abraço.